quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A outra


A foto acima mostra duas caras que seriam bem conhecidas no futuro do automobilismo. A do meio, claro, do bi campeão mundial Mika Hakkinen; a da direita, de JJ Lehto. Ambos ainda no kart finlandês. Desde que chegaram à F1, sempre foi de conhecimento coletivo que os dois disputaram lugares de destaque no kart local, até as fórmulas maiores. Dividindo as vitórias com eles, estava outro que futuramente veríamos também na F1, Mika Salo (que não aparece na foto).

Mas hoje, chamo atenção para a pessoa à esquerda na foto, uma menina. Seu nome era Taru Rinne. E pra quem começa a imaginar que este pódio foi obra de mero acaso, digo: Nem de longe. Taru era, ao lado dos três, uma das maiores promessas do kart finlandês no fim dos anos 70 e início dos 80.

Rinne foi bi campeã da categoria finlandesa dos karts de 85cc nos anos de 1979 e 1982. Para ilustrar a grandiosidade desses feitos, basta dizer que nos três anos entre esses dois campeonatos, os campeões foram nada menos que Mika Hakkinen (duas vezes) e Mika Salo (uma vez). Ao lado de Lehto, Hakkinen e Salo, o nome de Taru Rinne estrelava até mais do que o dos meninos, já que não se esperava de uma mulher aquilo que a finlandesa fazia.

Porém, sua carreira no automobilismo teve um fim prematuro e indigesto. Em 1983, disputando o mesmo campeonato, Taru se sagraria campeã. Entretanto, se veria desclassificada dias depois graças a aditivos proibidos encontrados na gasolina de seu kart. Hakkinen herdaria o campeonato. Mas, a punição não ficou só nisso para Rinne. Ela foi simplesmente banida de toda e qualquer competição pelo ano de 1984 inteiro. Uma punição que não poderia vir em um momento mais inoportuno, já que, aos 15 anos, ela vivia um tempo de transição para os monopostos.

Em 1985, a finlandesa desistiu do automobilismo, mas não das corridas. Foi tentar a sorte no motociclismo. Tirou habilitação e começou a correr no campeonato local das 125cc. No segundo ano, conseguiu um excepcional quarto lugar geral.

Em 1988, passou a fazer o campeonato europeu de motociclismo. Sua performance aliada a interesses comerciais, culminaram numa estreia no campeonato mundial já no mês de Julho daquele ano - no GP da França, em Paul Ricard, na própria categoria 125cc. Depois de largar em 28º no grid, a finlandesa terminou numa grande 14º posição, conquistando já seus primeiros dois pontos no mundial; a modestos 44 segundos do vencedor, Jorge Martinez (sim, o que é dono da equipe Aspar  hoje em dia).

Mas seu melhor momento no motociclismo seria em Hockenheim um ano depois. Taru se classificou em segundo(!!) para a prova das 125cc. Ela chegou a liderar boa parte da prova, mas no fim, com uma queda de desempenho em sua Honda, acabou tendo que se contentar com um sétimo lugar – seu melhor resultado na carreira.

Ela disputaria mais algumas provas em meio às temporadas, sempre como “wild card”. Até que, em 1991, na mesma Paul Ricard em que estreou, Taru sofreu um acidente treinando. Na queda, quebrou seus dois tornozelos. A recuperação seria lenta, e ela só poderia voltar às pistas em 1992.

No entanto, um fato inusitado selaria sua carreira. Bernie Ecclestone, à época presidente da FOCA e FOPA (atual FOM), detinha poderes executivos que passavam sobre as fronteiras da F1, e podiam às vezes reger o esporte europeu de acordo com suas vontades. Em uma carta enviada a Taru Rinne, Ecclestone proibiu a finlandesa de voltar a correr, alegando, surpreendentemente, que ela não era suficientemente qualificada para tal. Como que de repente, sua carreira internacional encontrava um ponto final. Nada pode ser feito.

Há registros de que ela tenha feito o campeonato alemão de 125cc em 1993, mas Taru Rinne desapareceu. Um fim inadequado e um pós-carreira injusto, para uma das melhores piloto de todos os tempos. A primeira mulher a pontuar numa corrida no campeonato mundial de motociclismo (atual MotoGP). 25 pontos no total da carreira.

Foto: Taru Rinne e Giacomo Agostini.



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