sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Os três mosqueteiros


No mundial de MotoGP desde 1990, Loris Capirossi pode não ter sido campeão na categoria máxima do motociclismo, mas colecionou bons momentos e foi uma figura importante durante boa parte de sua carreira. Esta será a última temporada do italiano de 38 anos profissionalmente, já que negou convites da Superbike e anunciou ontem em Misano que irá se retirar da MotoGP no fim do ano.

Loris ganhou nove corridas na categoria top do motociclismo mundial, porém apenas uma em sua primeira passagem pelo campeonato (1995-96) - o GP da Austrália em Eastern Creek, última corrida da temporada de 1996. No entanto, pela falta de desempenho durante o ano, em 1997, foi “rebaixado” para a 250cc novamente. Lá se sagrou campeão em 1998, e em 2000 retornou à MotoGP pela equipe Pons.

A sexta etapa daquela temporada seria na Itália, em Mugello. Junto a ela um desafio aos pupilos da casa. O ano marcava a melhor linhagem de pilotos italianos em muito tempo. Além de Capirossi (bi-campeão das 125cc e campeão das 250cc), estavam no grid Max Biaggi (tetra das 250cc) e o então estreante Valentino Rossi (campeão das 125cc e 250cc). Os três perseguindo e querendo para si a quebra de um tabu: ser o primeiro italiano a ganhar o GP da Itália em Mugello pela 500cc. Não podendo ser diferente, a expectativa era alta.

A pole ficou com o companheiro de Loris, Alexandre Barros - sua primeira na 500cc. Ao lado do brasileiro na primeira fila, simplesmente os três italianos campeões até aqui citados. Biaggi, Rossi e Capirossi, respectivamente. Na largada, Barros e Biaggi partiram mal, dando o primeiro lugar a Kenny Roberts Jr., que vinha da segunda fila. Ainda na primeira volta, Rossi assumiria a liderança, e Capirossi, uma volta depois, se livraria também do americano da Suzuki e se postaria em segundo. Mais seis voltas, e Biaggi – que cruzara a primeira volta em sétimo - já seria o terceiro.

Para delírio dos locais, os três italianos aos poucos iam se distanciando da disputa pelo quarto lugar. Cinematograficamente, os três filhos da terra aproximavam-se do fim da corrida com a possibilidade de lutar entre si no “mano a mano” para ver quem daria a primeira vitória à Itália na pista localizada na região da Toscana. A cinco voltas do fim – levando mais de sete segundos para Carlos Checa, quarto colocado isolado - uma disputa ainda discreta começaria a se tornar dramática e memorável.

Rossi partiria pra cima de Capirossi pelo primeiro lugar - o local: primeira curva do circuito de Mugello. Uma volta depois, “Capirex” lhe daria o troco no mesmo lugar graças a um erro de Valentino na saída da penúltima curva. A duas voltas do final, o calculista Rossi decidiu de uma vez por todas parar de pressionar e colocou a moto por dentro na curva Scarperia. Assumiria a liderança, e instantaneamente começaria a distanciar-se... até que na freada seguinte, em um erro, foi à caixa brita depois de perder a frente de sua Honda número 46. O sonho da primeira vitória para “The Doctor” (que nem possuía o apelido na época ainda) na 500cc estava adiado pelo preço da inexperiência.

Última volta. Biaggi, que ainda não havia se mostrado muito no duelo, de uma hora para outra enfiou sua Yamaha por dentro de Capirossi na curva Casanova. Loris não vendeu barato a liderança e, logo depois de concluída a manobra de Max, jogou sua Honda por dentro nas duas Arrabiattas - curvas de alta velocidade em subida. Os dois andavam lado a lado, quase se tocando. Na segunda perna, Capirossi acabou saindo na frente por estar na linha de dentro da tangência.

Chegavam de novo à Scarperia, onde Rossi havia superado Loris na volta anterior. Biaggi estava colado, muito próximo. Mas tão próximo, que na tentativa de colocar por fora na segunda perna da curva, bateu seu guidão na rabeta da moto de Capirossi. Tiro e queda: Biaggi, assim como Rossi, foi parar na brita do circuito italiano. Depois de sentir o toque na traseira, Capirossi olhou pra trás, e certificou-se com seus próprios olhos. Socou o ar. Sabia que ser o primeiro italiano a vencer em Mugello era questão de tempo. E foi. Quatro curvas depois, Loris venceu aquela que – ao lado de dar a primeira vitória à Ducati na Catalunya em 2003 – foi sua melhor corrida na carreira.

Capirex fará falta, amigos.

(A qualidade do vídeo não é boa, mas dá pra quebrar o galho)

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