domingo, 18 de setembro de 2011

A vida que não acabou


Há dez anos o mundo do automobilismo vivia um drama. A Indy pisava pela primeira vez em terras européias, para aquela que seria uma incursão das mais corajosas no velho continente. Seriam duas corridas - uma em Lausitz, Alemanha, outra em Rockingham, Inglaterra.

A que era primeiramente chamada de "German 500", foi, na semana da prova, renomeada de “American Memorial 500”. Tudo graças aos atentados de 11 de Setembro. A imaginar, o astral da prova já não era dos melhores.

A temporada de 2001 não estava sendo fácil para Alessandro Zanardi. Vindo de um fracasso na F1, o italiano havia ficado o ano de 2000 parado, e voltava às "origens" (em termos de sucesso) americanas tentando reviver seus dias de glória. A equipe escolhida para sua volta foi a Mo Nunn – equipe de seu velho engenheiro e amigo dos tempos de Chip Ganassi, Morris Nunn. A temporada estava sendo difícil. Um quarto lugar em Toronto foi o melhor que o italiano do carro 66 havia conseguido.

Mas na Alemanha tudo parecia mudar. Zanardi e seu companheiro - o brasileiro Tony Kanaan - vinham conseguindo tirar de seus motores Honda e chassis Reynard bons tempos, os melhores do fim de semana nos treinos livres. Porém, para a infelicidade dos dois, a tomada de tempo oficial fora cancelada devido às chuvas na sexta-feira. Sendo assim, o grid foi definido pela classificação do campeonato; Gil de Ferran seria o pole.

Na prova, os dois pilotos da Mo Nunn demorariam um pouco, mas fariam seu bom rendimento valer, quando pela sua metade apareceram disputando a liderança da prova com Kenny Brack, Max Papis, Michael Andretti e Patrick Carpentier. A performance de Zanardi principalmente era fantástica – havia saído de 22º e vinha imprimindo um ritmo formidável. O campeão havia voltado?

Eis que Kanaan e Zanardi desgarrariam do resto e teriam a chance de uma disputa caseira pela liderança durante cerca de 10 voltas. Os pilotos da Mo Nunn, uma equipe bem modesta que só tinha uma temporada de vida, estrelavam uma corrida com ritmos e velocidades até superiores aos do Team Rahal, grande “bicho papão” dos ovais naquele ano.

Na volta 141, depois de ser ultrapassado por Zanardi, Kanaan pararia para seu último pit stop. Uma volta depois seria a vez do italiano. Alex (como era chamado pelos americanos) fazia uma apresentação exímia; e para coroar isso com o mérito merecido, o melhor que ele poderia fazer seria lutar com todas as forças para dar aquela que poderia ser a primeira vitória da equipe de Morris Nunn na CART. E mais do que isso, decretar a volta por cima dele depois de uma passagem amarga pela Williams na F1 em 1999.

Talvez nesse ímpeto, e de pneus frios, Zanardi tenha perdido sua concentração e o controle de seu carro na saída do Pit Lane. Rodou, saiu pela grama e foi parar no traçado da curva 1 com o carro de lado. Logo a seguir vinham dois carros na pista, os dois da equipe Forsythe. Carpentier conseguiu se livrar de Alex, mas Tagliani o pegou em cheio pelo meio a mais de 320 Km/h. Alex fraturou a pélvis, teve uma concussão e depois de três horas de cirurgia teve o que restou de suas pernas amputadas do joelho pra baixo, além do coma induzido que ficou por três dias.

Dia 30 de Outubro do mesmo ano, o italiano sairia sorrindo do hospital alemão onde renasceu. Um mês e meio depois de quase ter perdido a vida, Zanardi tinha o vigor mental na expressão facial de alguém que apenas tivesse tido, por ventura, um dia ruim (foto).

Um ano e meio depois o italiano protagonizou este momento abaixo – que até me mareja os olhos, as 13 voltas que faltavam para que ele concluísse sua prova em 2001.

Zanardi, com próteses, voltou a correr. De 2003 a 2009 andou no WTCC e ultimamente está se preparando para outro grande desafio; a participação nas para-olimpíadas de 2012 em provas de corrida para cadeirantes.

Não preciso dizer por que Zanardi é uma das pessoas que mais admiro. Um dos meus heróis. Nunca desistiu, e nunca perdeu as esperanças. Nos dias de hoje, está aí uma das melhores lições de vida da história da humanidade.

Um comentário:

Ron Groo disse...

Um cara com esta história, com este histórico de recuperação e de volta por cima, devia ser modelo de vida, idolo reverenciado, mas o que temos hoje em dia?
Lutadores de MMA UFC... pode?