quinta-feira, 21 de julho de 2011

De volta do inferno


Quando a F1 volta à Nurburgring, não há como não recordar o antigo Nordschleife, pista de 22 km de extensão na qual a categoria correu até 1976 quase ininterruptamente (exceção feita a 1959 – em AVUS - e 1970 – em Hockenheim). O chamado inferno verde - dada sua extensão e localização no meio da floresta de Eifel no oeste alemão - sempre foi um desafio à parte por suas curvas difíceis e traçado seletivo, além, também, de não tolerar erros.

Em 1957, o GP da Alemanha era a sexta de oito corridas. Como Indianápolis fazia parte do calendário, mas nenhuma equipe da F1 ia à América do norte para sua realização em razão de demasiados custos, na verdade corria-se ali a quinta de sete corridas da temporada, de fato.

Juan Manuel Fangio, de Maserati, era o líder do mundial. Ganhou três das quatro corridas que participara. Com esta estatística, Fangio poderia ser campeão naquele fim de semana apenas chegando ao segundo lugar. Ele faria a pole position para a corrida com o tempo de 9 min. 25 seg. e 6 décimos.

Porém, apesar da pole, o grande carro daquele fim de semana em constância era sabido que seria a Ferrari. Assim, Fangio e Maserati, para tentar uma vitória, partiram para uma estratégia arriscada depois da pole: Largariam de pneus macios e meio tanque de combustível. O intuito era andar rápido, abrir vantagem e parar com uma diferença suficiente para voltar ainda na frente e continuar andando rápido até o fim.

A corrida não começou bem. Na largada, Fangio cairia ao terceiro posto perdendo posição para duas das Ferraris, as de Peter Collins e Mike Hawthorn. Na volta três, ele conseguiria passá-los para ser primeiro finalmente. Com 22 voltas no total, Fangio teria que andar mais do que o previsto para garantir a vitória. Conseguiu uma boa, porém insuficiente, vantagem de 22 segundos para ir aos pits na volta 11 reabastecer o carro e trocar os pneus.

Mas aí voltaram os problemas. O pit stop foi um desastre, custando à sua corrida 1m e 10s. O carro era reabastecido enquanto os mecânicos trocavam os pneus a marretadas, outra época. Numa destas, uma arruela de uma das rodas quebraria, o que no fim das contas custou bastante tempo. Enquanto isso, Fangio saiu do carro para conversar com seu chefe de mecânicos e o diretor da equipe, depois voltou ao carro; mas claro, não sem antes tomar um gole de uma garrafa de limonada.

O argentino saiu dos pits em terceiro. Uma volta depois, a diferença dele para as duas Ferraris era 51 segundos, suficiente para desanimar qualquer um; mas não a Fangio. O argentino entrou ali numa sequência alucinante de voltas rápidas. Na primeira volta ele tirou 15,5s de Hawthorn – o líder -, quebrando o recorde da pista. E assim seria sucessivamente durante nove voltas, sete consecutivamente; ele quebraria de novo e de novo o recorde do circuito. Com a volta mais rápida da prova, ele simplesmente bateu o tempo de sua pole position em 8,2s.

Na volta 20, Hawthorn passou na linha de chegada a dois segundos de Collins, que levava apenas três para Fangio. Esta seria a volta crucial das ultrapassagens. Rapidamente ele tentaria passar Collins, mas erraria e seria relegado novamente ao terceiro lugar. Na reta seguinte outra tentativa, e a confirmação do segundo lugar.

Hora de passar Hawthorn. Aproximando-se de uma chicane perigosa com uma vala sem guard-rail ao lado, o argentino, com duas rodas na grama, conseguiria a execução da manobra que o colocaria de novo em primeiro lugar.

Mais uma volta e meia e ele conquistaria sua vigésima quarta, mais brilhante e última vitória, além de seu quinto, e também último, título mundial. Tudo isso aos 46 anos de idade. Após a corrida, Fangio assumiu que fazia as curvas em rotação alta e jogando sua traseira de lado. E ainda disse: Era como se eu estivesse na corrida novamente, fazendo os saltos no escuro sobre as curvas onde eu nunca tinha tido a coragem de ir tão longe”. No fim do ano o pentacampeão se retiraria da F1, mas não sem antes coroar sua já bela carreira com esta atuação digna.

O que será que colocaram naquela limonada?

Um comentário:

Ron Groo disse...

O que colocaram eu não sei, mas que fez do super Fangio um super homem neste dia, sem duvida.