sexta-feira, 1 de julho de 2011

Por um milagre


Dia 28 de Setembro de 1990, Sexta-Feira. A Formula 1 voltava a Jerez de la Fronteira para o Grande Prêmio da Espanha. Oito minutos da primeira sessão classificatória. Um estrondo é ouvido do paddock, ele remete aos que estavam lá às duas curvas que antecediam à última; lado oposto da reta dos boxes.

Quando avistam o local, veem fiscais agitando bandeiras amarelas, carros passando devagar e muita poeira. Quando conseguem avistar o que ocorrera, todos parecem não acreditar naquilo que presenciam. Havia se passado quatro anos desde o último acidente fatal naquele circo, porém desde 1982 não se via um acidente daquela gravidade em um fim de semana de corrida; um acidente que a olho nu parecia ter selado o destino do piloto envolvido.

Ele era Martin Donnelly, carro número 12 da Lotus. O norte-irlandês que havia estreado na F1 em Paul Ricard um ano antes, apenas substituindo seu ali companheiro de equipe - e também amigo - Derek Warwick na Arrows. Donnelly sofria numa primeira temporada complicada graças ao V12 da Lamborghini, em desenvolvimento, que pela falta de confiabilidade lhe tirou durante o ano várias possibilidades de pontuar. Sua melhor chegada havia sido na Hungria, um sétimo lugar.

Naquela tarde na Espanha sua carreira parecia ter tomado seu ultimo rumo. Nem os mais otimistas conseguiriam prever uma perfeita recuperação de Martin dado nível de sua batida, a cerca de 250 Km/h num lugar sem área de escape. O irlandês depois de espatifar o carro de frente no muro da antepenúltima curva da pista (onde hoje existe uma chicane opcional graças a este acidente, utilizada apenas em provas automobilísticas) foi ejetado para fora do bólido que se desintegrou em sua célula de sobrevivência.

A cena atemorizante que todos viam era Donnelly com o banco preso ao corpo no meio da pista e com o tornozelo direito esticado e saliente. O que havia sobrado do carro fora apenas o cofre do motor e a roda traseira direita, que se encontravam logo atrás do corpo do piloto.

A explicação para esse “esfacelamento” do Lotus 102 vinha do ano anterior, quando quem dirigia esse carro era Nelson Piquet e Satoru Nakajima, ambos medindo cerca de 1,70m. O chassi foi adaptado para que ele e Warwick, mais altos, não tivessem que trabalhar com os pedais no meio do eixo dianteiro, o que o regulamento proibia.

Martin sofreu graves ferimentos, vistos depois de uma sessão de raios-X num hospital de Sevilha. Concussão cerebral e trauma craniano, dada uma rachadura no capacete; pulmão perfurado e outros problemas internos, além das pernas quebradas, queixo e braços contundidos. Mas o norte-irlandês milagrosamente sobrevivera ao horror plástico daquela batida.

A partir daquele dia, começavam meses (diria até anos) de fisioterapia e recuperação árdua. Martin tinha contrato assinado para continuar a correr na Lotus em 1991, ao lado de um estreante finlandês chamado Mika Hakkinen. Donnelly jamais voltou à F1, mas continuou envolvido com o automobilismo. Nos anos seguintes montou uma equipe que atingiu sucesso na Fórmula Vauxhall inglesa.

Contudo, o que motiva este post é o festival de Goodwood, a ser realizado neste fim de semana na Inglaterra. Nesse ano estrelando uma volta por cima. Sim, Martin Donnelly voltará a dirigir o Lotus 102 pela primeira vez desde o dia 28 de Setembro no longínquo ano de 1990, quase 21 anos depois. Uma vitória pessoal misturada com uma boa dose de sorte misturada ainda a um, não menos importante, milagre vindo do além. De fato algo ou alguém quis que naquele tempo Martin não morresse, e ele sabe disso.

Vê-lo com esse carro em ação depois de tudo isso certamente será para ele e para nós fãs uma emoção das mais fortes.

Um comentário:

Ron Groo disse...

Imagina o que vai passar pela cabeça do cara...