"Provar o quê?" "Pra quem?" "Aonde chegar com isso?" "Até quando?" Alguns exemplos de perguntas que vieram à minha cabeça na sexta-feira, quando Barrichello deu mais um show de horror daquilo que sabe de melhor... fora de um carro de corrida. Fazer acusações bombásticas e as desmentir. Meter o pau no time, se eximindo de culpa, mostrando a imaturidade que sempre lhe foi característica.
Dentro das pistas, sou um dos maiores defensores de Rubens. Tem um currículo invejável para pelo menos 80% dos pilotos que já passaram – e ainda vão passar - pela Formula 1. Duas vezes terceiro colocado e duas vezes vice-campeão do mundo. Onze vitórias, 14 poles positions, 68 pódios. Passagem pela Ferrari, ter sido parte da Brawn - o maior conto de fadas do automobilismo moderno - e correr atualmente pela Williams – time tradicionalíssimo. Fora as duas voltas por cima dentro da categoria, em 1999 com a Stewart – que lhe rendeu lugar na Ferrari em 2000 - e em 2009 com a própria Brawn.
Acho mal de brasileiro crucificar o sujeito porque o cara não é número um do mundo. Rubinho é o que podemos chamar de profissional bem-sucedido. Está entre os dez maiores nomes da F1 dos anos 90 e 2000. É o único piloto a ultrapassar a marca dos 300 GPs disputados. E num ambiente competitivo como a F1, alguém não consegue isso sendo um qualquer. Barrichello é fora de série, sim - e que me provem o contrário.
O problema de Rubens é o extra-pista, as famigeradas declarações. Desde assumir o fardo de ser um novo Ayrton Senna lá atrás (foto), a criticar a Williams nos últimos dias - dando a entender que não é piloto para desenvolver carro e sim ser o número um absoluto. Ache o que achar, num time como a Williams (média pra baixo, neste ano) uma declaração assim soa como falta de humildade e espírito de equipe.
Rubens tem quatro pontos contra zero de Maldonado, mas foi venezuelano que levou o FW33 ao Q3 três vezes neste ano e não Rubinho. É ele também, mesmo sendo novato, que ganha o duelo interno de classificações por 6 a 5, fora ainda que estaria na frente de Rubens no campeonato não tivesse sido arrancado do sexto lugar no GP de Mônaco por Lewis Hamilton, num ataque kamikaze em plena St. Devoté. Para reivindicar e fazer pouco da equipe pela imprensa, Rubinho deveria estar fazendo mais. Mas é típico, nada nunca é culpa de Barrichello, o brasileirinho.
Rubens tem 39 anos de idade e ainda guia no auge do esporte a motor. Se orgulha disso, como lhe é digno. Mas de repente parar pode não ser uma má ideia. Principalmente pelo time estar complicando cada vez mais sua renovação que parecia certa. Disputar uma vaga, numa equipe como é a Williams hoje, com novatos como Hulkenberg e Sutil (nem tão novato assim, mas ainda tem o que provar) e no fim das contas ser preterido não seria um fim digno para alguém com a bagagem de Rubens.
Rubinho é muito melhor e já provou muito mais do que ambos. Se Hulkenberg fez uma volta fantástica que lhe rendeu a pole na intermitência pluvial que atingiu Interlagos no ano passado, Barrichello fez o equivalente no classificatório de sexta-feira no GP da Bélgica de 1994, quando conquistou sua primeira pole position na carreira. Assim como Sutil, andou no início da carreira por uma equipe média como a Force India. Conseguiu dois pódios; já Adrian, tem apenas um quarto lugar. Experiência à parte, analisando friamente, Rubinho é melhor.
Porém, trunfo de ambos contra Barrichello, se não é técnico, é financeiro; ganhariam - e sem reclamar em publico do time - muito menos do que Rubens ganha e trariam patrocínios, algo que é muito importante para o momento da Williams.
O ponto é: Rubinho não merece ter a carreira e a moral manchadas por mais isso. Tomar a grande decisão de retirar-se do alto de sua vasta experiência seria uma atitude magnânima para consigo mesmo. Bom para ele, que não iria se expor a uma derrota nesse sentido; bom para Williams que poderia fazer o papel que lhe é cabida no nível de time médio: revelar talentos – quem sabe até com Rubens os assessorando, ninguém melhor pra isso lá.
É uma pena que Barrichello não pense assim. Que vá lutar até o fim para um lugar no grid ano que vem. Que vá continuar com discursos otimistas estilo Quixote de la Mancha no início do ano, e espinafrar o time quando o carro ou a situação não for de seu agrado. É hora de crescer, Rubinho. Mais até, é hora do tchau em grande estilo. Hora de ir fazer outra coisa.
Um comentário:
Rubens já deu o que tinha de dar... Chegou a hora de ir vender pipoca no autódromo.
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